Hiper São Paulo
Segundo a Mercer Consulting, a cidade de São Paulo tornou-se, em 2011, a 10ª cidade mais cara do mundo. No último ano, galgou 11 posições no ranking das cidades mais caras em nível mundial.
Ao lado de São Paulo, também o Rio de Janeiro passou a ocupar a 12ª posição deste ranking, subindo dezessete posições na lista. Estes resultados ganham ainda mais relevância se notarmos que uma cidade como Nova York ocupa apenas a 32ª posição na lista.
A evolução registrada pelas cidades brasileiras não está descolada da sobrevalorização do real face a outras moedas.
Só no último ano a divisa brasileira avançou cerca de 15% face ao dólar. Adicionalmente, registra-se uma elevada pressão inflacionária impulsionada por um fenômeno de hiperconsumo (alguns autores utilizam este termo para caracterizar a atual sociedade de consumo desenfreado).
Desde o preço de uma simples refeição ao valor do metro quadrado. Tudo em São Paulo está caro e continua havendo um excesso de demanda.
Para além de ter entrado para o clube das 10 cidades mais caras do mundo, São Paulo merece hoje também destaque pela sua dimensão demográfica.
Recentemente, a região metropolitana ultrapassou a barreira dos 20 milhões de habitantes (20,8 milhões de habitantes, para ser mais preciso, de acordo com a wikipedia), valendo-lhe a passagem de megacidade (mais de 10 milhões de habitantes) a hipercidade ou metacidade (mais de 20 milhões de habitantes). Este é, por agora, um clube restrito a apenas nove grandes regiões metropolitanas.
A Mercer Consulting divulgou também o ranking de cidades mundiais ordenadas pelo índice de qualidade de vida. O índice é composto por 39 critérios. São Paulo classificou-se este ano em 117º lugar. A cidade brasileira com melhor resultado foi Brasília, na 104ª posição.
A lista ficou dominada, nas primeiras três posições, por Viena, Zurique e Genebra. É interessante verificar que nenhuma das hipercidades pontua no topo deste ranking. Será um sinal de que a dimensão demográfica é um fator de perda de qualidade de vida? Será possível urbanizar de forma equilibrada para além de uma certa dimensão crítica?
Uma breve passagem por Copenhague - classificada na 8ª posição do ranking Mercer - sugere-nos que as cidades menores têm maior facilidade em adotar soluções sustentáveis de forma sistêmica. Copenhague é uma ecocapital, com fortes credenciais na qualidade do ar, na gestão ambiental, no sistema de transportes públicos, na utilização da bicicleta, na eficiência energética, no design inteligente dos seus edifícios, etc.
Em um cenário em que metade da população mundial já vive em cidades e em que essa percentual seguirá aumentando nos próximos anos - prevê-se 75% em 2050 -, a resolução da equação da sustentabilidade implica, em grande medida, o desenvolvimento sustentável das regiões metropolitanas.
As áreas urbanizadas apesar de ocuparem apenas 2% da superfície da Terra, consomem mais de 70% da energia do planeta e emitem mais de 80% do CO2 lançado para a atmosfera.
Este deverá ser um tema central da conferência Rio+20, que será realizada no Rio de Janeiro, em 2012 - 20 anos após a Cúpula da Terra, que reuniu 100 governantes na mesma cidade -, com o objetivo de renovar o compromisso político com o desenvolvimento sustentável e com a transição para a economia verde.
É esse também um grande desafio para São Paulo: conciliar a hiperdimensão e o hiperconsumo com a sustentabilidade, desenvolvendo-se como uma hipercidade sustentável.
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Miguel Setas é vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil.
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