Um número acentuado de empresas enfrenta dificuldades para controle de seus resultados operacionais, considerados os aspectos de caráter econômico e financeiro, cuja otimização depende de uma série de providências a serem tomadas recomendando-se, em princípio, a definição de suas Políticas de caráter financeiro bem como, a otimização da estrutura orgânica da área de controladoria e finanças além da estrutura de sistema e suporte operacional.
Para fins de tomada de decisão o não desenvolvimento de análises sob um prisma financeiro, consideradas tanto a estrutura patrimonial quanto, principalmente, a estrutura de resultados, constitui um dos problemas gerenciais mais significativos da atualidade nas empresas.
A falta de uma estrutura mais adequada e o tradicionalismo na preparação e apresentação das peças de caráter contábil oferece, em muitos casos, até mesmo uma falsa sensação de lucratividade e segurança operacional. Em muitas organizações a contabilidade apresenta apenas uma análise rudimentar do período passado não oferecendo condições para uma medição sobre o presente e muito menos, orientação para uma correta tomada de decisão para otimização dos resultados futuros.
O grande volume de alterações em termos fiscais e tributários vem desvirtuando totalmente o papel do contador que, cada vez mais, no sentido de atender aqueles dispositivos, se distancia das funções que deveria efetivamente exercer ou seja, orientar a empresa de forma mais eficaz e lucrativa. Mesmo as mais recentes regulamentações determinando às empresas a apresentação de peças contábeis corrigidas monetariamente perdem parcialmente a sua importância face às deficiências no sistema de apuração dos índices de correção aliado a defasagem em termos de apresentação dos números e grau de complexidade em sua forma de tratamento ou aplicação prática.
A solução reside em um ponto de fundamental importância: as empresas devem organizar-se para salvar a análise dos ganhos ou perdas em termos reais de “cash basis” não se iludindo com a apresentação de dispendiosos balanços de caráter puramente econômico que, na maioria das vezes, não relata, efetivamente, a sua real situação do ponto de vista financeiro.
Mesmo as organizações que apresentam relatórios gerenciais demonstrando os resultados obtidos sob um enfoque de margem de contribuição, determinando o seu ponto de equilíbrio e grau de retorno traduz, na maioria das vezes, análises sob um ângulo puramente econômico. Nesta altura poderíamos perguntar: O que fazer? Como analisar de forma simples, porém eficiente, os resultados operacionais do período contábil? Como proceder para não ser traído por demonstrativos tomando por base números puramente econômicos, carentes de um maior grau de exatidão? Como otimizar a projeção dos resultados da empresa? Estas, sem dúvida, deveriam ser as principais preocupações dos principais executivos da empresa. A gerência de controladoria deverá exercer um papel muito mais orientativo e até mesmo doutrinador e não simplesmente se resumir à rotineira apresentação de balancetes mensais, que constituem peças de difícil entendimento para a maioria dos principais executivos das áreas técnicas da organização que, ironicamente, são normalmente, os principais tomadores de decisão em termos de volume financeiro envolvido nas operações.
Os demonstrativos de resultado, além de sua abordagem econômica e obediência aos princípios e convenções contábeis, deverão também, para fins gerenciais, receber uma análise considerando um enfoque de caráter financeiro. Para exemplificar, detalhamos a seguir, já dentro de um enfoque gerencial e obedecendo aos conceitos de custeio direto ou marginal, uma demonstração de resultados hipotética para efeito de análise:
APURAÇÃO DE RESULTADOS | VALOR ECONÔMICO |
Vendas Brutas do Período | 120.000 |
(-) Impostos e Outras Deduções | 20.000 |
(=) Vendas Líquidas | 100.000 |
(-) Custo dos Produtos Vendidos | 60.000 |
(=) Margem de Contribuição | 40.000 |
(-) Custos Fixos do Período | 15.000 |
(=) Resultado Operacional – 01 | 25.000 |
(-) Custos Financeiros | 15.000 |
(=) Resultado Operacional - 02 | 10.000 |
% de Lucro sobre Vendas Líquidas | 10% |
Vamos admitir, como exemplo, que os demais valores de correção monetária e valores não operacionais sejam de efeito neutro passando os números apresentados a constituírem o resultado contábil mais efetivo das operações da empresa. Neste caso qual teria a análise da gerência sobre os resultados obtidos no período? O resultado teria sido bom? Considerado um período de crise no mercado de atuação da empresa? Muito bom?
Parece-nos bastante lógico que esta seria, sem dúvida, a reação frente aos resultados apresentados. Entretanto, os números apresentados precisam merecer uma análise gerencial mais rigorosa, obedecida a uma abordagem de caráter financeiro. Precisam ser identificados os prazos em que as operações foram efetivamente realizadas a fim de possibilitar a apuração do resultado financeiro, com base no fluxo de caixa da operação.
Digamos, como exemplo, que através de uma análise mais detalhada e, consideradas, em princípio, apenas as principais variáveis, identificamos as seguintes informações adicionais:
a) Prazo médio ponderado de faturamento de 40 dias
b) Atraso médio ponderado previsto para o período será de 5 dias.
c) Prazo médio para recolhimento dos impostos sobre vendas será de 30 dias.
d) A participação de materiais no custo dos produtos vendidos será de 70%.
e) O prazo médio ponderado a ser concedido por fornecedores será de 45 dias.
f) O prazo médio ponderado estimado para estocagem de materiais é de 60 dias.
g) O prazo médio ponderado para liquidação de outros custos variáveis é de 10 dias.
h) O prazo médio ponderado para liquidação de custos fixos é de 5 dias.
Utilizando-se dos números e informações complementares teremos condições de preparar uma demonstração de resultados, obedecendo ao conceito financeiro, através do cálculo do “valor presente” de todos os seus componentes básicos. Considerada, a título de exemplo didático, uma taxa de juros de 20% ao mês (valor de i) identificaremos os seguintes resultados:
APURAÇÃO DE RESULTADOS | VALOR ECONÔMICO | VALOR PRESENTE |
Vendas Brutas do Período | 120.000 | 91.287 |
(-) Impostos e Outras Deduções | 20.000 | 16.666 |
(=) Vendas Líquidas | 100.000 | 74.621 |
(-) Custo dos Produtos Vendidos | 60.000 | 62.946 |
Materiais Aplicados | | 46.008 |
Outros Custos Variáveis | | 16.938 |
(=) Margem de Contribuição | 40.000 | 11.675 |
(-) Custos Fixos do Período | 15.000 | 14.551 |
(=) Resultado Operacional – 01 | 25.000 | (2.876) |
(-) Custos Financeiros | 15.000 | 15.000 |
(=) Resultado Operacional - 02 | 10.000 | (17.876) |
% de Lucro sobre Vendas Líquidas | 10% | (24%) |
Analisando os resultados do ponto de vista contábil, apuramos um resultado positivo de 10.000 equivalente a 10% das Vendas Líquidas, quando na realidade, do ponto de vista financeiro, podemos afirmar ter sido o resultado negativo de 17.876 em 24%, além de se fazer necessário deduzir o imposto de renda que será devido a partir do resultado econômico. É lógico que, quando analisado um período maior, a existência de um sincronismo negativo de caixa afetará as despesas financeiras que passaram a figurar imediatamente na demonstração de resultados. Entretanto, analisar o resultado de um período mensal, cujas operações principais ainda não foram liquidadas do ponto de vista financeiro, poderá oferecer um resultado pouco realista à empresa. Esta situação representa bem o caso daquelas organizações que apresentam um lucro até mesmo significativo, do ponto de vista contábil, buscando porém, através da contratação de novos empréstimos, dinheiro nos bancos para reforço do seu capital de giro. O mais grave acontece quando a empresa apresenta uma margem de contribuição negativa e, no sentido de melhorar sua situação, procura aumentar o seu volume de vendas, mantendo os mesmos prazos e condições, em nada melhorando o seu resultado, mas, tão somente agravando a situação do ponto de vista financeiro o que poderá levar a mesma a uma situação de insolvência.
Para que a empresa possa administrar os seus resultados com maior grau de eficiência deverá controlar as operações considerando os aspectos de caráter financeiro, recomendando-se:
a) Organizar a empresa através da implantação de uma estrutura equilibrada, considerados os aspectos orgânicos, sistêmicos e de suporte organizacional;
b) Desenvolver uma estrutura contábil sólida, capaz de fornecer, além de informações legais, fiscais e tributárias, outras de caráter gerencial para orientação do processo decisório;
c) Analisar os resultados da empresa do ponto de vista financeiro ou “cash basis” a fim de gerenciar, de forma mais eficiente, o grau de sincronismo de caixa das operações da empresa;
d) Investir os valores de excessos de caixa de forma racional, consideradas as melhores alternativas do ponto de vista operacional, a fim de garantir a sobrevivência técnica e operacional da empresa em períodos futuros.
Em síntese a empresa deverá procurar obter resultados reais e não apenas lucros do ponto de vista puramente contábil.
Notas:
1. Publicado no Mensário do Contabilista. Teor da Palestra proferida no Seminário de Qualidade em Gestão Contábil e Financeira promovido pela Audibra Instituto dos Auditores Internos do Brasil, Anefac Associação Nacional dos Executivos de Finanças.
2. Foi utilizada uma taxa considerada relevante a fim dar maior grau de relevância à idéia que se pretende transmitir e facilidade de entendimento do ponto de vista didático.
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